Naquela tarde nebulosa com cheiro de chuva, os pensamentos estavam turbulentos e os sentimentos tão intensos que lhe traziam conforto, com uma dose de desespero. Seus pensamentos turbulentos a deixavam em silêncio.
Os olhos da humana guardavam uma esperança surpreendente, mesmo que a mesma já tivesse absoluta certeza da resposta; independente do que fosse, que estivesse pensando.
— Um sorvete ao invés de dois. — se questionou a humana.
Já estava prestes a chorar quando se deu conta de que aquele não seria o melhor momento, mas ainda assim, aquele seria o presente perfeito. Pensando somente em si mesma e no quanto mudaria mediante as situações, sabia que sua reação diria mais sobre o amadurecimento de sua emoção do que qualquer outra coisa.
— Dentro da alegria de uma confirmação se tem a euforia do choro que quer escapar. — consolou-a o Cartoleiro.
As palavras dele confortaram o coração da moça, a lembrando que estava tudo bem mesmo que seu humor não estivesse dos melhores naquele dia; lembrando que às vezes estamos absortos sobre como nos sentimos e que não pensar em nada também era pensar em alguma coisa. — em momentos como aquele, onde um órgão de seu corpo ficava com o dobro do tamanho, era compreensível que a poeta ficasse longos períodos em silêncio. — O contraste entre o que se sabe e o que se espera, é tão fino quanto um fio vermelho. Nossas emoções se alteram várias vezes ao longo do mês, nos preparando para o momento em que iremos nos contorcer com o dobro do abacate e chorar por não conseguir escolher um tom de esmalte ou pelo chocolate que não tem amendoim.
Parece estranho, mas esse sentimento caótico é mais comum do que parece. Dentre tantos humanos, somente uma mulher é capaz de suportar dores que bombardeiam-a de dentro para fora e claro, o sangue. A imensa quantidade de sangue que se perde todo mês de maneira incessante.
— Dói? — perguntou o Cartoleiro.
— É como se uma família de dinossauros pulasse dentro de meu útero. — ela respondeu com lágrimas nos olhos.
— Ô meu bem…
Ele não sabia o que fazer. E sinceramente? não havia nada que pudesse ser feito a não ser ficar ao lado dela a cada segundo que fosse. E assim ele o fez. — Dentro da percepção feminina, ser cíclica é uma dádiva; mesmo que muitas não olhem para esse momento com carinho e acolhimento, este é o nosso momento.
Um momento único onde nosso corpo demonstra que está tudo bem sentir dor, está tudo bem se permitir receber carinho e está tudo bem sangrar todo mês e continuar sorrindo. É o momento que nos lembra a respeitar nosso organismo. A hora de olhar para si e parar de ir contra seu corpo e começar a alinhar ele com a sua mente e sua rotina. E todo mês ele te sinaliza, ele fala com você.
Acompanhamos nossas emoções e hormônios com graça quando nos permitimos parar e respirar para olharmos para dentro de nós; cada uma de nós funciona de uma forma subjetiva e mesmo assim: todas nós partilhamos a constante das contorções. Ou como eu gosto de chamar: os famosos dinossauros na barriga. —
O frio da tarde a acompanhou junto a músicas dançantes que a confirmavam entre o vento gelado que adentrava a janela. Junto, a inspiração cobriu sua mente de forma tão majestosa que a criatividade ganhou forma em silhuetas, palavras e cores.